Há uma coisa que me assusta verdadeiramente na Bulgária, é a chamada "корекция".
Literalmente traduzido significa "correcção" e para nós cá em casa significa o ajuste de contas aplicado pela Central de Aquecimento a seguir ao Inverno terminar, igual a despesa extra pior que o seguro de carro, que despesas farmacêuticas (aqui não comparticipadas), que os impostos sobre os imóveis, ou que as despesas mensais durante o Inverno (que aqui são muitas, um verdadeiro arrombo financeiro).
Em Maio uma equipa de técnicos veio cá a casa para inspeccionarem os contadores, nessa altura estava em casa e delicadamente fazendo passar-me por sonsa perguntei, quanto acha que me vai custar a "корекция" deste ano, ao que o técnico me respondeu, não lhe consigo dizer, peço desculpa, é muito dificil de calcular.
As belas das correcções são do mais imprevisivel que possam imaginar, não há uma lógica por detrás da forma como calculam.
Pagamos um balúrdio durante todo o Inverno, porque com uma criança pequena (em casa, metade do Inverno doente) não nos podémos dar ao "luxo" de ter o aquecimento desligado em casa, isto quando estão menos 22 graus lá fora.
Este ano foi o Inverno mais rigoroso dos últimos 20 anos, ora conseguem perceber o meu medo com a maldita da "корекция", se o ano passado que o Inverno não foi assim tão mau, quando eu recebi a "корекция" benzi-me e pedi perdão pelos meus pecados, imaginem este ano.
Ai Meu Deus, que lá se vão as poupanças para os pneus de Inverno e para as cadeiras da Varanda!
Mas hoje descobri que não estou só neste pânico, neste medo de receber a "корекция", ao que parece hoje vieram distribuir as cartinhas com os valores a pagar, mas o técnico do aquecimento que estava à entrada disse que as havia deixado no quinto andar (o meu).
Ora, tal não é verdade, ninguém sequer tocou à campainha e não temos cá carta nenhuma.
Mas por causa disso, hoje já nos bateram à porta todos os vizinhos do prédio, perguntando se temos uma carta para eles, com aquela cara de "que Deus me ajude e me dê força para mais esta provação". Quando lhes digo que não, ficam preocupados, com medo que algo mais anormal ainda se passe.
Foi assim que percebi que nem os búlgaros percebem como são calculadas as correcções e que têm tanto medo delas quanto eu.
O pior é que aqui nunca houve subsidio de férias, subsidio de natal ou sequer subsidio de "корекции", daí que seja muito dificil poupar para esta conta tão inesperada que todos sabem fatal como o destino.
Os meus colegas que não têem filhos, não têm aquecimento, no Inverno, compram um aquecedor e andam com ele atrás pela casa fora como se fosse um telemóvel, os que têem lixam-se porque não se pode obrigar uma criança a estar quieta, ou a comerem com frio, ou a dormir fora do quartinho deles, ou vesti-los 300 000 peças de roupa para não terem frio (cá em casa então seria choradeira 24 horas, já que a Maria detesta ter roupa em cima).
É assim que preciso de ganhar força para inspeccionar a minha caixa de correio, não vá eu ter as contas de toda a gente por lá.
Só sei que tenho muito, mas muito medo! A ver se não morro de susto!
Não havia carta nenhuma no correio.. Por agora ainda respiro!!
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