Friday, November 23, 2012

Waiting for "Superman"



Não posso dizer que nunca pensei no Futuro, mas antes de ser Mãe o Futuro tinha uma dimensão diferente. Quando via o Futuro à minha frente, ele era sempre mais imediato, mais presente, mais relativo e não tão fatalista, porque quando era só eu, era só eu, acontecesse o que acontecesse havia de me safar.

Agora não, o Futuro significa para mim como os meus filhos vão crescer, o que vão aprender, em quem se vão tornar e em como vão viver.
O Futuro significa tudo! Significa que eu não posso deixar acontecer o que tiver que acontecer, que eu tenho e quero lhes dar o melhor (mesmo que seja para lá das minhas possibilidades), que eu não posso fracassar e que tenho Medo (palavra que dantes não entrava no meu vocabulário).

Antes da Maria e do meu pequeno Todor que ainda está dentro de mim, também tinha uma imagem e conceito diferente das Instituições Públicas, nomeadamente das Escolas.

Sempre gabei a minha Escola Primária e Secundária, acho que tive uns quantos professores maravilhosos (uma professora de filosofia que nos entusiasmou tanto com o tema, que ninguém queria faltar às aulas, várias professoras de português que me faziam vibrar com o entusiasmo, um professor de matemática que nos desafiava todos os dias a querer ir mais longe do que o programa), mas tive outros que por amor de Deus, (um Professor de História cujas aulas consistiam na leitura dos apontamentos, sem levantar os olhos da folha, uma professora de inglês que dava erros a torto e a direito, quer na escrita, quer a falar).

Pequena Nota: o meu muito obrigado à D.Mercedes e à D. Emília, as minhas primeiras professoras, as melhores e as que me deram as bases para o resto do percurso.

Ora, hoje vejo o ensino público com outros olhos, procuro saber quais as taxas de insucesso, se chegam ou não a conseguir entrar na faculadade, e em que faculdades entram, observo os comportamentos das crianças de determinadas escolas comparadas com outras e penso se valerá a pena correr o risco. A conclusão é não, nos próximos 18 anos eu terei que ter a estabilidade económica para suportar a despesa de uma escola privada, para que eles tenham mais e melhores possibilidades de triunfarem no futuro (esta é a realidade aqui na Bulgária).

Ontem à noite assisti a este Documentário,  Waiting for "Superman" e confesso que me vieram as lágrimas aos olhos, nos Estados Unidos a qualidade do ensino público é mísera. Diversos factores, falta de fundos, professores sem talento, que a seguir à primeira hora de aulas que deram na vida, já nunca podem ser despedidos, mesmo que não façam absolutamente nada, escolas a abarrotar, crianças com problemas que não tem suporte ou apoio e que os professores não podem acompanhar, professores que mesmo que tenham boa vontade não conseguem combater o sistema e acabam por perder a motivação, salários limitados, não havendo incentivos para os melhores, sindicatos que me fazem ter vergonha de um dia ter achado que eles eram sempre benéficos para a sociedade.

Mas, no meio disto tudo, há escolas de sucesso, que combatem a muito custo a tendência deste tipo de ensino público, com professores que fazem verdadeiras obras de arte, com taxas elevadíssimas de sucesso, já que o lema é ninguém fica para trás.

Ora, são nestas escolas que todos os pais querem conseguir colocar os filhos, mas de acordo com a lei quando o número de candidaturas é superior ao das vagas, os acessos são determinados por lotaria.

Foi aqui que eu fiquei em estado de choque, não é o mérito, não é o esforço, não é a necessidade, é uma questão de sorte. Resultado quando entram, as crianças sentem-se bafejadas pela sorte, pela graça divina, quando não entram choram e ficam verdadeiramente frustradas. Ver uma Menina de cerca de 10 aninhos, que quer ser enfermeira, porque quer ajudar as pessoas, a chorar porque não entrou na escola que ela e os pais acreditam que lhe daria essa possibilidade é triste por demais.

Chorei também, com 10 anos tem a vida toda pela frente e já pensa que não vai ter a oportunidade para conseguir realizar os seus sonhos, porque o currículo nas outras escolas não lhe permitirá acesso à bolsa que precisa ou aos conhecimentos miníminos para entrar na Faculdade. Que sistema é este?

No incio do documentário, o realizador falava, tal como eu, como ele pensava que as escolas públicas eram boas, até ao dia em que teve que pôr os filhos na privada, contra os seus principios, mas que ele tinha sorte, agora imaginem os Pais que não conseguem suportar uma Privada, que não ganham na lotaria das melhores escolas.

Deixar que a vida de uma criança seja determinada por uma questão de sorte alarma-me, aterroriza-me, mas para quantos milhões de crianças não se trata disso mesmo, de sorte. Sorte de ter nascido num sitio onde não há fome, onde há boas escolas, onde as pessoas se amam.

Concordo com o final, não podemos esperar mais para mudar este sistema, temos que batalhar contra estas armadilhas, onde quer que estejamos, temos que ajudar as escolas a tornarem as oportunidades possíveis para todos e não só para uns.

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